Uma das maiores expectativas em relação a posse do presidente Lula era a respeito da passagem da faixa presidencial, já que seu predescessor não iria participar deste simbólico ato, quem teria o poder para substituí-lo na ausência de outros substitutos prováveis como o vice-presidente, por exemplo?
Grata surpresa foi a escolha de representantes daquele que na nossa democracia deveria ser o real detentor do poder: o povo brasileiro.
Tirando nota dez no quesito diversidade, o grupo era composto por pessoas provenientes dos principais grupos, muitas vezes ausentes nos espaços de poder. No geral foi uma surpresa termos uma mulher negra escolhida para finalizar a ação vestindo a faixa no comandante da nação.
Muitos foram na direção do merecimento pessoal: é por ela ser uma catadora e logo a discussão se perdeu com questionamentos a respeito de viagem a Europa que a mesma fez, como se isso a livrasse dos comprovados deméritos de ser uma mulher negra periférica em um país onde todos os dias temos que conviver com a desigualdade sócio-econômica, o racismo e a misoginia.
É preciso entender que a interseccionalidade destes fatores colocam a mulher negra em uma situação na nossa sociedade onde teríamos múltiplas justificativas para o seu protagonismo na situação em questão. Eu posso rapidamente citar algumas:
Maior grupo da população brasileira
Mais impactado pelas desigualdades por estar na base da pirâmide social
Lidera estatísticas ruins como os índices de mortalidade materna
Um Brasil melhor para as mulheres negras é um país melhor para todos
Essa lista poderia ter muitos outros itens, porém passado o momento simbólico o que importa mais, a meu ver, são as ações que realmente tragam mudanças na prática, entendendo que a justiça social não é boa apenas para um grupo, mas sim a base de um mais desenvolvido e próspero.
Como disse Angela Davis: “ Quando a mulher negra se movimenta, toda a estrutura da sociedade se movimenta com ela”
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